A DERRADEIRA CANÇÃO


“De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto...”

Teoricamente, assim seria um final.
Do nosso riso não se fez o pranto. Já não havia riso.
Um fim sem pranto, sem riso, sem cor, sem nada.
Espera-se reconhecer a dor sentida nesses momentos. Nem mesmo sei que dor eu sinto.

Talvez seja o nada que, agora, me maltrata o peito.
Talvez a mínima possibilidade de crer que fui um louco e que a lógica das razões se manteve destorcida em minha mente por lentos e vazios anos.
Sempre tentando te mostrar que você não era o que pensava ser. Que é sendo o que se é que se encontra a beleza.

Na tentativa de te desvendar me perdi. Perdi-me de mim e dos meus valores, dos meus gostos, meus anseios.
Sublimei minhas vontades e disfarcei meus medos.
Buscando te libertar me prendi a uma possibilidade pequena. Impossível.

Talvez eu estivesse enganado. Talvez a beleza que enxerguei por trás de tanta couraça fosse apenas um desejo meu.
É provável que nada exista. É possível que o que você tem de melhor tenha sido inventado por mim. E eu nem posso te culpar.

Queria mesmo era pedir desculpas.
Desculpe-me por cobrar
algo que você não tem pra oferecer e nem – nunca - entenderia.
Desculpe-me por achar que algo especial germinava em teu peito.
Desculpe-me por esperar que fosse alguém que nunca será.

Lembro-me de que sempre te incomodou o fato de que eu guardasse de ti uma imagem leviana. Saiba que minha brutalidade e aspereza se fundamentavam em uma singela esperança que agora se desfaz.
A culpa é toda minha e você sempre teve razão.
Equivoquei-me ao avistar em teus híbridos olhos uma auspiciosa epifania.

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