DESPEDIDA (Cecília Meireles)


Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces ? - me perguntarão.
- Por não Ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras ?
Tudo.
Que desejas ?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação ...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão !
Estandarte triste de uma estranha guerra ... )
Quero solidão.

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A FERIDA ESTANCADA

Depois de tantas vezes
Abrir a ferida quase estancada,
Apenas para ver
Se ainda corria sangue
Sobre o tecido morto e purulento,
Fecho-a com a agulha da tristeza e pena.
Já ali, não mais corre o sangue,
Somente pus e toda a classe de moléstias.
Mas a carne não morre
E, bem cosida, se regenera.
E pulsa o sangue novo.

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E AO PARAR, PROSSEGUIA


Com a mão sobre a curva das costas, respirava e seguia.
Respirar era o que restava
Seguir se fazia necessário
E a necessidade, por sua vez, vital.

A vitalidade vinha com fome
E a fome com desespero
O desespero com ira
E a ira, dentada.

Os dentes rangiam
O ranger agoniava
A agonia sujava
E a sujeira assustava

No susto, eu movia,
E, por mover, me limpava
E a limpeza molhava
E ao molhar, me sujava.

E quão mais me movia
Mais molhado ficava,
Mais imundo, ficava,
Imundo, molhado e movendo.

E ao mover me cansava
E molhado ficava
E imundo eu movia
E cansado eu parava

E cansado eu parava
E parado eu olhava
Eu, imundo, me olhava
E molhado parava.

E ao parar eu olhava
E, por olhar, me movia
E me movendo eu andava
E ao andar me secava.

E me secando, limpava
E, por andar, me movia
Ao mover, me secava
E ao secar me olhava.

E quão mais me olhava
Mais eu andava
E quão mais eu andava
Mais me secava e a sujeira caia.

E a sujeira caia
E eu que, andando, limpava
Enfim parava.
E ao parar, prosseguia.

Caesar Pierini 28/09/08

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O Último Sortilégio - Fernando Pessoa


"Já repeti o antigo encantamento,
E a grande Deusa aos olhos se negou.
Já repeti, nas pausas do amplo vento,
As orações cuja alma é um ser fecundo.
Nada me o abismo deu ou o céu mostrou.
Só o vento volta onde estou toda e só,
E tudo dorme no confuso mundo.

"Outrora meu condão fadava, as sarças
E a minha evocação do solo erguia
Presenças concentradas das que esparsas
Dormem nas formas naturais das coisas.
Outrora a minha voz acontecia.
Fadas e elfos, se eu chamasse, via.
E as folhas da floresta eram lustrosas.

"Minha varinha, com que da vontade
Falava às existências essenciais,
Já não conhece a minha realidade.
Já, se o círculo traço, não há nada.
Murmura o vento alheio extintos ais,
E ao luar que sobe além dos matagais
Não sou mais do que os bosques ou a estrada.

"Já me falece o dom com que me amavam.
Já me não torno a forma e o fim da vida
A quantos que, buscando-os, me buscavam.
Já, praia, o mar dos braços não me inunda.
Nem já me vejo ao sol saudado ergUida,
Ou, em êxtase mágico perdida,
Ao luar, à boca da caverna funda.

"Já as sacras potências infernais,
Que, dormentes sem deuses nem destino,
À substância das coisas são iguais,
Não ouvem minha voz ou os nomes seus.
A música partiu-se do meu hino.
Já meu furor astral não é divino
Nem meu corpo pensado é já um deus.

"E as longínquas deidades do atro poço,
Que tantas vezes, pálida, evoquei
Com a raiva de amar em alvoroço,
lnevocadas hoje ante mim estão.
Como, sem que as amasse, eu as chamei,
Agora, que não amo, as tenho, e sei
Que meu vendido ser consumirão.

"Tu, porém, Sol, cujo ouro me foi presa,
Tu, Lua, cuja prata converti,
Se já não podeis dar-me essa beleza
Que tantas vezes tive por querer,
Ao menos meu ser findo dividi
­Meu ser essencial se perca em si,
Só meu corpo sem mim fique alma e ser!

"Converta-me a minha última magia
Numa estátua de mim em corpo vivo!
Morra quem sou, mas quem me fiz e havia,
Anônima presença que se beija,
Carne do meu abstrato amor cativo,
Seja a morte de mim em que revivo;
E tal qual fui, não sendo nada, eu seja!"

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MA MEMOIRE SALE (Les Chanson D'amour)

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02:47 a.m.


02:47 a.m
Hora de estar dormindo!
Por quê?
Acaso tenho hora para acordar?
Se não tenho hora para acordar, porque teria para dormir?
Onde se esconde, hábito castrador, que teima em ecoar no imperativo?
Deixe-me em paz e saia, já, da minha cabeça!
Durmo, tão somente, quando o sono me ordenar.
E, de igual modo, quando tiver fome, apenas comerei o que quiser.
Lembro-me de ter ido morar só; não de ter trazido para debaixo do teto meu, tal consciência-manipuladora-paternal.

Quero parecer o mais próximo daquilo que sou.
Todos temos nossas personas, e eu as respeito, até determinado ponto.
Tenho medo das pessoas que fazem questão de afirmar sua persona.
Bom, para quem não sabe, persona é identidade que criamos; o modo ao qual gostaríamos de ser vistos.
Não necessariamente o que somos, e na maioria das vezes nem parecido, mas aquilo que gostaríamos que alguém ou um todo acreditasse.
Não gosto de gente que fala alto, que conta suas floridas vantagens em lugares públicos...
Hoje fui a um bar.
Uma moça, até bonita, sentada em uma mesa próxima, gritava que seu trabalho era importante, porém mantendo um tom de naturalidade...
Penso ser esta, quando conscienciosa, a maior auto-flagelação praticável.
Já que ter um trabalho importante era tão natural e comum para ela, qual a necessidade de anunciar para todo o bar? Talvez seja isso o que de melhor ela tem, ou seja, nada.

Muitas vezes acho-me estranho, pois quero ser o que sou, e quem quiser que goste de mim.
Quero falar o que penso e o que sinto, na hora que sinto ou penso.
Quero alguém que fale e que pense e que viva o que sente.
De que vale ter alguém, não pelo que sou, mas pelo que quero parecer?
Já se perguntaram, se a forma que se apresentam e que se relacionam parece com o que vocês realmente são?
Para mim, o maior amor, é aquele que permanece após todas as coisas feias serem expostas.
É quando enxergamos, nua, a pessoa que deita ao nosso lado na cama.
E temos a certeza de que, embora tudo, amamos.
Durmo só, mas durmo com o que sou.
Durmo só, mas não durmo com o que não é.
E boa noite!

O CÂNTICO NEGRO (José Régio)




"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,Tendes jardins, tendes canteiros,Tendes pátria, tendes tetos,E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
***
*José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.


*Conteudo do site www.releituras.com
Projeto releituras.

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CARTA DE FERNADO PESSOA PARA OPHELIA


Ophelinha:
Agradeço a sua carta. Ella trouxe-me pena e allivio ao mesmo tempo. Pena, porque estas cousas fazem sempre pena; allivio, porque, na verdade, a unica solução é essa - o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. Da minha, ao menos, fica uma estima profunda, uma amisade inalteravel. Não me nega a Ophelinha outro tanto, não é verdade?
Nem a Ophelinha, nem eu, temos culpa nisto. Só o Destino terá culpa, se o Destino fosse gente, a quem culpas se attribuissem.
O Tempo, que envelhece as faces e os cabellos, envelhece tambem, mas mais depressa ainda, as affeições violentas. A maioria da gente, porque é estupida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contrahiu o habito de se sentir a amar. Se assim não fosse, naão havia gente feliz no mundo. As creaturas superiores, porém, são privadas da possibilidade d’essa illusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por elle a estima, ou a gratidão, que elle deixou.
Estas cousas fazem soffrer, mas o soffrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão de passar o amor e a dor, e todas as mais cousas, que não são mais que partes da vida?
Na sua carta é injusta para commigo, mas comprehendo e desculpo; decerto a escreveu com irritação, talvez mesmo com magua, mas a maioria da gente - homens ou mulheres - escreveria, no seu caso, num tom ainda mais acerbo, e em termos ainda mais injustos. Mas a Ophelinha tem um feitio optimo, e mesmo a sua irritação não consegue ter maldade. Quando casar, se não tiver a felicidade que merece, por certo que não será sua a culpa.
Quanto a mim…
O amor passou. Mas conservo-lhe uma affeição inalteravel, e não esquecerei nunca - nunca, creia - nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequeneina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua indole amoravel. Pode ser que me engane, e que estas qualidades, que lhe attribúo, fossem uma illusão minha; mas nem creio que fossem, nem, a terem sido, seria desprimor para mim que lh’as attribuisse.
Não sei o que quer que lhe devolva - cartas ou que mais. Eu preferia não lhe devolver nada, e conservar as suas cartinhas como memoria viva de uma passado morto, como todos os passados; como alguma cousa de commovedor numa vida, como a minha, em que o progresso nos annos é par do progresso na infelicidade e na desillusão.
Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infancia, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras affeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memoria profunda do seu amor antigo e inutil
Que isto de “outras affeições” e de “outros caminhos” é consigo, Ophelinha, e não commigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existencia a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais á obediência a Mestres que não permittem nem perdoam.
Não é necessario que comprehenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei na minha.
Fernando

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ANIVERSÁRIOS


ANIVERSÁRIOS
As pessoas fazem aniversário todos os anos, tanto o velho, quanto o moço.
A menos que morram antes da data, é assim que acontece.
Mesmo as jovens senhoras de idade-regressiva fazem seus cinqüenta, sessenta anos. Um após o outro!
Claro, com exceção da Dercy Gonçalves que morreu com idade tripla, 101, 102 e 103 anos.
Dercy foi a único ser vivente que nasceu em 1906, foi registrada em 1907, morreu em 2008 e jurou ter 103 anos.
Agora, como 2008 - 1906 é igual a 103, só a Dercy Gonçalves sabe; E eu peço a Deus que ela nunca venha me contar, Amém!
Tem gente que adora o próprio aniversário, eu, não dou à mínima.
Acho até engraçado quando alguém chega, com seus braços abertos e um sorriso maior que o da Fafá de Belém, dizendo:

- Você não vai me dar um abraço? Hoje é meu aniversário!

E com o mesmo impacto que a pergunta chega, eu penso:
“E se eu dissesse que não? Será que a boca da Fafá se transformaria na máscara da tragédia grega?”
E tal qual a espontaneidade de Jesus ao subir na cruz, abro um sorriso e, na mesma proporção e simultaneamente, meus braços.
Tiro as pontas dos pés do chão, ao ser erguido, e conto até três, para começar a dar “aqueles tapinhas” nas costas que, supostamente, deveriam nos fazer voltar ao chão.
E tem gente que não entende por que nos Estados Unidos são processadas pessoas por segurarem a porta de um elevador.
Será que, o intimado pelo processo, perguntou ao reclamante se iria descer no mesmo andar?
Ou apenas disse:

- Pode descer minha senhora!
- Não, obrigada, eu não...
- Faço qüestão de que desças primeiro, inclusive, hoje é meu aniversário, dê-me um abraaaço!

Existe coisa melhor que gente assim, simpática?
Existe! Criança adestrada.
Crianças adestradas são tão graciosas! Sempre orientadas, pelos pais, a não perguntar pelo presente. Elas apenas olham paras nossas mãos vazias enquanto seus pais dizem:

- Olha quem está aqui, filho...

E o silêncio prevalece até a campainha tocar, anunciando a próxima vítima da adorável criatura com menos de 1 metro de altura.

Desde pequeno sou vítima de festinhas de aniversário.
Aos 7 anos, mamãe me deixou mais cedo na casa de um coleguinha da escola que fazia aniversário naquele dia, pois tinha que ir à missa, e se chegasse tarde na igreja, não teria onde estacionar seu fusca.
Sendo eu o primeiro convidado a chegar, esperava na cozinha, entre tias e avós que enrolavam cajuzinhos, enquanto meu coleguinha tomava banho para a festa.
Me mandaram puxar uma cadeira e sentar, mas em minha astúcia pueril, logo pensei:
Para que puxar uma cadeira, se há uma aqui, bem ao meu lado?
E sentei.
Logo que sentei, notei que, aquela cadeira, era um pouco mais fofa e úmida que as cadeiras em que já havia sentado até então.
E antes que a pesada vovó urrasse de raiva, percebi que havia algo estranho naquela cadeira.
E realmente havia. O bolo!
E é claro que fui eu o culpado, afinal, uma cadeira é o lugar ideal para deixar um bolo, recém-desenformado, esfriando.

Catorze anos mais tarde, fui levado à uma festa de aniversário, uma dessas reuniões-americanas, em que o povo de teatro faz e cada um leva alguma coisa, todos se divertem, enfim.
Como era “quase convidado”, pois era amigo de um amigo do aniversariante, levei cervejas. Cerveja é uma coisa que, geralmente, acaba rápido nessas festas.
Fui recebido com muito álcool...
...provindo do hálito de um rapaz, que devia cortar seus cabelos no mesmo lugar que o Cauby Peixoto, ao proferir um simples “olá”.
Ainda com a minha sacola na mão, surge um grito atrás de mim:

-Pessoal, essa é a ultima garrafa de vinho...
...Vamos brindar, Evoé!

E junto com o evoé e a garrafa, um braço de estendeu no exato instante em que eu passava.
E a garrafa “évoou” para o chão!
E os olhos todos, que ali estavam, "évoaram" em minha direção.
E foi assim que eu disse:

-
Tem cerveja! Alguém quer?

E se calar fosse sinônimo de consentir, certamente, alguém teria tomado a cerveja que levei.

E como se não bastasse, recentemente fui convidado para uma festa surpresa.
Um amigo, que poucas vezes haviamos estado juntos fora do ambiente de trabalho, receberia a agradável surpresa.
Entre seus parentes, seus amigos, amigos de amigos e eu, totalizávamos umas trinta e poucas pessoas.
Subtraindo o atraso do aniversariante pela previsão de início da festa, passei duas horas pulando de roda-em-roda de amigos, aos quais eu não pertencia e tampouco participava de seus assuntos. Ao chegar o tão esperado e atrasado amigo, me coloquei na pirâmide-humana que cercava a mesa do bolo em silêncio.
As pessoas mais próximas da mesa não possuíam isqueiro.
E sem que me pedissem, pus-me no trabalho de acender a vela.
Juro, que com a mesma rapidez com que derrubei a vela, levantei-a.
E não reparei que uma fogueira de papéis amarelos, que adornavam o bolo, começou a crescer.
Porta abre, o amigo entra.
E enquanto as luzes estavam apagadas e o aniversariante entrava, parte das pessoas cantavam:

- Parabéns pra você!!

E a parte que sobrava gritava:

- Apaga, apaga!!!

E enquanto isso, o bolo queimava.

Então, queridos, quando me convidarem para um aniversário,
Mandarei flores!!



Caesar Pierini

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QUIMERA


Imagem da querida fera, pintada em um a taça no ano 570 a.c
Aliás, Quimera era macho ou fêmea??

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À CRASSE AUTÍSTICA


Chamamos de “CLASSE”, a ordem segundo a qual se dividem, distribuem ou arrumam seres e coisas. Uma classe converge um conjunto de seres com características ou objetivos similares.
Chamamos de “ARTISTA”, aquele que faz arte segundo seus sentimentos, seus desejos, seu conhecimento, suas idéias, sua imaginação e criatividade, o que deixa claro que cada obra de arte é uma forma particular de interpretação da vida.
E o que podemos dizer da “classe artística”?
Seria um paradoxo, ou no mínimo uma ironia, dizer que a classe artística agrupa pessoas com um objetivo comum.
Fazemos parte de uma ilusória síntese denominada classe, em que poucos se respeitam, alguns se aceitam e muitos se odeiam.
Parece agressivo??
Claro, porém não nos espanta permanecer macomunando, apenas pensar que é assim que acontece.
Ainda pensam que deviamos chamar classe?
Eu voto por filo!
“Filo Artístico”.
Um filo engloba várias classes, em que os seres vivos foram divididos tendo em conta os seus traços evolutivos e a sua estrutura e ancestralidade.
E também nos faz parecer um pouco mais animais.
Que tal se pararmos de ser malditos, de criticar os trabalhos alheios em suas diversas propostas artísticas e passarmos a enxergar como expressões individuais e autênticas, por serem o resultado daquilo que um artista quer mostrar?
Vamos deixar o Zé Celso mostrar a bunda em paz, a Grace Gianoukas fazer suas hilarias caretas, os pobres amigos necessitados fazerem seus infantis e os atores de musicais usarem seus cachecóis.
Será que lembramos qual a função da semana da arte moderna em 1922?
Crasse Autística, estamos em setembro de 2008!


Caesar Pierini

QUIMERA


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TEXTO SEM NOME

E eu, que só quero saber o que querer, saio.
E como uma criança entediada de seus brinquedos, ando por entre as pirâmides de concreto da cidade inconcussa.
Ruas, em suas angulares e disformes curvas; Carros.
As vezes penso que carros são apenas caracteres que compõe esse abstrato mundo em que vivo.
Deveria me ocupar em pensar que alguém os dirige?
Não sei, mas ao fazer, penso de onde vem e para onde vão, por qual motivo vem e por qual vão, e se gostam de vir e ir ou não.
Talvez gostem de vir, mas não de ir; outros o contrário disso; e os que não sabem ao certo.
Penso que os que não sabem, por não saber, então gostam. Do contrário saberiam.
Acho que gosto de muitas das coisas que faço, pois sempre faço coisas, e a maioria delas nem mesmo lembro que fiz. Se fossem ruins lembraria, certamente.
Gosto de ir ao cinema, mesmo que só e talvez mais que acompanhado.
Pessoas estranham isso, eu adoro.
Ora, se cinema fosse feito para ir acompanhado os assentos seriam duplos!
Eu sei, assentos de cinema também são duplos. Para obesos.
Será que uma pessoa obesa se sente melhor acompanhada, por estar mais em si que qualquer outra?
Deve ser um sacrifício ser obeso e não achar-se uma boa companhia.
Gosto de ir ao cinema e sentir que ao deixar meu mundo egocêntrico, passo a fazer parte de uma sala de projeção, que continuará existindo, se ali eu estiver.
E quando o filme acaba, me agrada não saber o que as pessoas acharam, mas buscar em seus semblantes a emoção com que dali saem.
Gosto de escrever, e imaginar que alguém lê; pensando saber o que me motivou a escrever isso ou aquilo.
Definitivamente, não gosto das formalizações e convenções sociais, participo, pois não conheço, ainda, outra forma de viver fora delas.
E depois de sair, buscando recheio para o vazio que por vezes teima em assolar, volto, ainda mais vago e emerso em dúvidas e questões sem respostas.

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DOIS

Par são dois
Dois hemisférios.
Dois não meus
Ausentes, zero!

Dilibido duoengano
Amoricos sofregeanos...

Sinistr’alvo ardia em chamas
Destr’ocre em epifanias

Por dois glóbulos mirava.
Três, com si, Paris julguva.

Mãos pra trás
Seus dois retinha

Ao sagrar
Não mais se via

Foi assim, sofrido dia,
Sinistr’alvo então partia

De rompante passa-à-fora,
Foi na mais senil das horas.

Destr’ocre permanecia
Eu em sua mão, ele na minha.

Mas passado pouco tempo
Fez-se o amor um sofrimento

Quando Destr’ocre notara
Que em sua mão que sobrara

(E que, então, parecia vazia)
Outro alguém ali trazia

Vi findar-se a epifania
E esvair minha alegria

Eu que só, agora, vivo
Relembrando o ocorrido

Peço que o tempo não sobre
Escrevendo rima pobre.

Par são dois
Dois hemisférios.
Dois não meus
Ausentes, zero!

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A EXPECTATIVA

Há quem diz que existe um tempo do plantio.
Há quem vive, pela esperança do colher;
Outros se lastimam receando que o plantado não vingue,
E os que plantam sem saber que o fazem.

Há quem diz que existe um tempo da colheita.
Há quem foge, pelo medo de colher;
Outros se deleitam no plantado que vingou,
E os que colhem sem saber que haviam plantado.

Há quem diz que colheu o que não plantou.
Há quem persiste, pelo rebento desejado.

Se há quem já assim colheu, por favor, me esclareça,
Quanto ao nome deste tempo e se vinga nova ceifa.

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O EXORAR DO BULÍCIO

Despertei em quase-vida.
Exorei, diversas vezes, pelo bulício de quedar-me em pé.
Sobre a horizontalidade que me prendia pela pélvis,
Fiz-me vértice em ângulo reto.
Suspirei.
E verticalizando, desvendei a tênue linha criadora que oscila entre o tédio e o desespero.

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O POEMA DA HORA SEM NOME

É na hora do teu gozo, com gente imunda, que te ocultas da lembrança.
É nesse compuscar do vazio que te olvidas da memória da beleza.
Do predicativo NOME, que se metamorfoseia em MITO e se torna inalcançável...
Vislumbras um banquete, mas crês que não é para ti.
E te sacias pelas migalhas.

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ILLU ITERARE JOCOSU

És, agora, a mão.
E eu, o cão teu.
Que em minha boca
Trago à ti, uma vez mais,
O toco de seco pau
Para que eleja em qual rumo
Irei iterar minha angustia.

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A MÃO NOSSA

Quando só,
Em minha casa,
Meu corpo sentia sua falta.
Fechando os olhos, transformei minhas mãos em tuas.
Tuas mãos eram firmes ao tocar meu corpo.
E pouco tempo foi necessário
Para tomar de mim
O prazer que, não mais, me pertencia.

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O OSTENTAR PRESCINDÍVEL ou O POEMA DA GRAÇA CONTESTADA

Questionei-me se teria eqüitativo mérito, expressar-me a ti, pela forma que a mim, mais augusta se apresenta.
A tentativa de grafar, mesmo que, de inepta, erronea e equivocada forma.
Em pelejo com meu tempestuoso ego, que por ora me corrompe, proponho-me a fazer.
E sem que a necessidade da ofensa me controle; e tampouco desejando que haja beleza nisso,
O que tenho a dizer é simples.
Não sei qual, dentre os sentimentos existentes, irei alimentar por você,
Mas sei exatamente o que penso a teu respeito.
E não discuto!

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SÊ RIDÍCULO

Não te espanta quão fugaz é o tempo?
Não vês que sou belo e moço e alvo...
...E que por tardar, poderás encontrar-me em leito à outra companhia,
Derramando sobre estranha cama o fluido do prazer meu, que então, te pertence?
Fecha teus olhos e sê ridículo como agora sou!
De que vale viver resguardando-se das delícias oferecidas pelo risco?
Toma-me pelo braço e faz-me solfejar as sílabas do teu nome, sem que me sobre o ar,
Que por ora é minha singular companhia...

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AINDA ASSIM

Ainda que meu saco tivesse o dobro do tamanho que tem
Ainda que eu fosse um yogue, frei ou um monge zen
Ainda que me dopasse pra ver depois do darma o que é que vem
Ainda assim, seria capaz de irritar-me como ninguém.

Quiçá se soltasse a fictícia cruz que pintaste
Quiçá se crescesse e teu falo pesasse
Quiçá se soubesse que é feio o que fazes
Quiçá assim, não mais me atormentasse.

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INDIGÊNCIA VOLUNTÁRIA

Que se afugentem de mim os amantes e seus constantes ai-de-mim’s!
Sendo que, quando diante da real volúpia,
Embrenham em seus olhos o cativo hesitar.
Paradoxo literal dos devaneios de prazer.
Vejo-me só, com apenas um olho aberto, em meio a cegos voluntários.

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VOCÊ

Tão belo é você...

...Dono supremo do meu calado prazer.
Brisa transcendente que me envolve o corpo e a mente.
Chama que me arde e me acende plenamente,
Sopro de desejo que me escorre pela pele, entre os pelos.
Viciando-me por um toque, por um cheiro.

Tão belo é você...

...Que meu corpo pede instintivamente.
Vem!
Toma-me loucamente,
Ama-me eternamente.
Derrama sobre meu corpo o sumo do teu prazer.

Tão belo é você...

...Que sempre que vier, terá meu peito a te aquecer
E minha carne a saciar o teu prazer...

...Pois tão belo é você.

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VAI VELOZ, VEM RAPIDINHO

Que acontece, ó gente minha,
Quando na rua de noitinha
Passarinho que vive lá pr’outros lados
Vem de mansinho fazer um ninho?

Passarinho é bicho esperto,
Sai voando em céu aberto
Se equilibra em qualquer vento
Pra rajar meu firmamento.

Mas depois, de manhãzinha,
Frio danado, miserinha...
Passarinho que vive lá pr’outros lados
Vai se embora a seu legado.

Voa, voa passarinho
Vai veloz, vem rapinho
Que agora, meu bichinho,
Tu só pousa nesse ninho.

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QUEM SOU EU:

Não sei ao certo, mas pretendo, quem sabe um dia.
Sei que sou muito branco, tenho sardas nos ombros;
Um par de olhos, mas não me pergunte a cor, sempre tenho dúvidas entre azuis ou verdes.
Minha estatura é pequena, mas meu gênio não se deu conta disso.
Sei que sou um bom amigo, ausente, mas não menos intenso.
Gosto de muita gente, não sei dizer quem é meu melhor amigo, gosto de todos e cada um de forma única, o que torna impossível uma comparação.
E se não gosto fica nítido.
Sei também que sou bravo, ciumento, possessivo, manipulador e um pouquinho vingativo...
Sim, sou escorpiano!
Mas não sou louco, sei dosar meu veneno.
Já tive alguns amores, não muitos, mas grandes.
Não acredito em crenças-limitadoras, e sei que posso amar sempre e muito.
Quis ter minha liberdade cedo, sai de casa ainda muito jovem.
Hoje sou preso a minha liberdade;
Paradoxo?? Não sei!
Pago um preço bem alto por ela todos os meses, em códigos de barras e boletos bancários.
Vivo só, e estou aprendendo como isso funciona.
Tenho saudades da minha cachorra “Nina”, mas não tive condições de cuidar dela sozinho.
Viajo bastante, a trabalho.
Cansei de tentar decidir se sou ator, comediante ou bailarino.
Trabalho com o corpo, mas não me prostituo, mesmo as vezes me sentindo assim.
Pretendo fazer faculdade de psicologia, ter uma vida mais normal.
Jogo Tarô, gosto de incensos, florais e astrologia.

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