ANIVERSÁRIOS


ANIVERSÁRIOS
As pessoas fazem aniversário todos os anos, tanto o velho, quanto o moço.
A menos que morram antes da data, é assim que acontece.
Mesmo as jovens senhoras de idade-regressiva fazem seus cinqüenta, sessenta anos. Um após o outro!
Claro, com exceção da Dercy Gonçalves que morreu com idade tripla, 101, 102 e 103 anos.
Dercy foi a único ser vivente que nasceu em 1906, foi registrada em 1907, morreu em 2008 e jurou ter 103 anos.
Agora, como 2008 - 1906 é igual a 103, só a Dercy Gonçalves sabe; E eu peço a Deus que ela nunca venha me contar, Amém!
Tem gente que adora o próprio aniversário, eu, não dou à mínima.
Acho até engraçado quando alguém chega, com seus braços abertos e um sorriso maior que o da Fafá de Belém, dizendo:

- Você não vai me dar um abraço? Hoje é meu aniversário!

E com o mesmo impacto que a pergunta chega, eu penso:
“E se eu dissesse que não? Será que a boca da Fafá se transformaria na máscara da tragédia grega?”
E tal qual a espontaneidade de Jesus ao subir na cruz, abro um sorriso e, na mesma proporção e simultaneamente, meus braços.
Tiro as pontas dos pés do chão, ao ser erguido, e conto até três, para começar a dar “aqueles tapinhas” nas costas que, supostamente, deveriam nos fazer voltar ao chão.
E tem gente que não entende por que nos Estados Unidos são processadas pessoas por segurarem a porta de um elevador.
Será que, o intimado pelo processo, perguntou ao reclamante se iria descer no mesmo andar?
Ou apenas disse:

- Pode descer minha senhora!
- Não, obrigada, eu não...
- Faço qüestão de que desças primeiro, inclusive, hoje é meu aniversário, dê-me um abraaaço!

Existe coisa melhor que gente assim, simpática?
Existe! Criança adestrada.
Crianças adestradas são tão graciosas! Sempre orientadas, pelos pais, a não perguntar pelo presente. Elas apenas olham paras nossas mãos vazias enquanto seus pais dizem:

- Olha quem está aqui, filho...

E o silêncio prevalece até a campainha tocar, anunciando a próxima vítima da adorável criatura com menos de 1 metro de altura.

Desde pequeno sou vítima de festinhas de aniversário.
Aos 7 anos, mamãe me deixou mais cedo na casa de um coleguinha da escola que fazia aniversário naquele dia, pois tinha que ir à missa, e se chegasse tarde na igreja, não teria onde estacionar seu fusca.
Sendo eu o primeiro convidado a chegar, esperava na cozinha, entre tias e avós que enrolavam cajuzinhos, enquanto meu coleguinha tomava banho para a festa.
Me mandaram puxar uma cadeira e sentar, mas em minha astúcia pueril, logo pensei:
Para que puxar uma cadeira, se há uma aqui, bem ao meu lado?
E sentei.
Logo que sentei, notei que, aquela cadeira, era um pouco mais fofa e úmida que as cadeiras em que já havia sentado até então.
E antes que a pesada vovó urrasse de raiva, percebi que havia algo estranho naquela cadeira.
E realmente havia. O bolo!
E é claro que fui eu o culpado, afinal, uma cadeira é o lugar ideal para deixar um bolo, recém-desenformado, esfriando.

Catorze anos mais tarde, fui levado à uma festa de aniversário, uma dessas reuniões-americanas, em que o povo de teatro faz e cada um leva alguma coisa, todos se divertem, enfim.
Como era “quase convidado”, pois era amigo de um amigo do aniversariante, levei cervejas. Cerveja é uma coisa que, geralmente, acaba rápido nessas festas.
Fui recebido com muito álcool...
...provindo do hálito de um rapaz, que devia cortar seus cabelos no mesmo lugar que o Cauby Peixoto, ao proferir um simples “olá”.
Ainda com a minha sacola na mão, surge um grito atrás de mim:

-Pessoal, essa é a ultima garrafa de vinho...
...Vamos brindar, Evoé!

E junto com o evoé e a garrafa, um braço de estendeu no exato instante em que eu passava.
E a garrafa “évoou” para o chão!
E os olhos todos, que ali estavam, "évoaram" em minha direção.
E foi assim que eu disse:

-
Tem cerveja! Alguém quer?

E se calar fosse sinônimo de consentir, certamente, alguém teria tomado a cerveja que levei.

E como se não bastasse, recentemente fui convidado para uma festa surpresa.
Um amigo, que poucas vezes haviamos estado juntos fora do ambiente de trabalho, receberia a agradável surpresa.
Entre seus parentes, seus amigos, amigos de amigos e eu, totalizávamos umas trinta e poucas pessoas.
Subtraindo o atraso do aniversariante pela previsão de início da festa, passei duas horas pulando de roda-em-roda de amigos, aos quais eu não pertencia e tampouco participava de seus assuntos. Ao chegar o tão esperado e atrasado amigo, me coloquei na pirâmide-humana que cercava a mesa do bolo em silêncio.
As pessoas mais próximas da mesa não possuíam isqueiro.
E sem que me pedissem, pus-me no trabalho de acender a vela.
Juro, que com a mesma rapidez com que derrubei a vela, levantei-a.
E não reparei que uma fogueira de papéis amarelos, que adornavam o bolo, começou a crescer.
Porta abre, o amigo entra.
E enquanto as luzes estavam apagadas e o aniversariante entrava, parte das pessoas cantavam:

- Parabéns pra você!!

E a parte que sobrava gritava:

- Apaga, apaga!!!

E enquanto isso, o bolo queimava.

Então, queridos, quando me convidarem para um aniversário,
Mandarei flores!!



Caesar Pierini

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2 comentários:

Nivia disse...

Acredita que eu vi uma cena como este último relato que você fez? Será que já vivi isso?
Hahahahahaha. Amei querido.

Adriano Veríssimo disse...

Queridooooooooo!
Puxa não tive como não te ver em cada cena...e essa imagem foi ficando mais firme com as atrapalhadas e na ultima....haushaushaushau...foi mto boa...
Tô rindo que nem um besta aqui!

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