Discorrer em meio ao tédio.


Era uma vez uma quarta-feira chuvosa.
Dessas que a chuva chove e nem molha,
Dessas que nada acontece e ninguém aparece.
Sentado sobre a perna dobrada, as mãos coçavam as sobrancelhas com o que restava das unhas.
De quem? As minhas!
Entre os cigarros fumados, os braços se cruzavam, e descruzavam com paciência pueril.
O cheiro do cinzeiro me obrigava ir até a lixeira.
E a pilha de pratos me convidava a sair dela. A cozinha.
Pessoas empilham livros, pratos, cartas, jornal.
Ultimamente ando empilhando vontades. Vontade é uma coisa curiosa!
Tenho vontade de coisas que, se não as empilhassem, certamente, me deixariam louco.
Do “pretérito” louco. (nem adjetivo, substantivo ou sujeito, nem objeto, seja ele indireto ou não.)
Gente louca não empilha nada! Eu sei pelo pretérito...
Que inconveniente pode ser, às vezes, o pretérito!
A inconveniência me faz rir por longos e em distintos momentos.
Acreditava sofrer de vergonha alheia, mas estava enganado. Ela me inspira e diverte.
Será que Benjamin Franklin teria vergonha da inscrição em sua lápide?

"Aqui repousa, entregue aos vermes, o corpo de Benjamin Franklin, impresso, como a capa de um velho livro, cujas folhas foram arrancadas e cujo título e douração, apagados. Mas nem por isso a obra ficará perdida, pois reaparecerá, como ele acreditava, em nova e mais elegante edição, revista e melhorada pelo autor."

Eu, seguramente, teria!
Quando eu morrer, dispenso essas frases.
Aliás, para que não corra esse risco, deixo uma sugestão:

“Olá gente presente.
Se não tiver banquinho, pode sentar na tampa de granito, pois eu não gosto de visita em pé.
Se for chorar, faça em tom baixo, pois tem gente repousando dos dois lados.
Ao invés de rezar, leia um conto da Hilda Hilst.
Desejo que volte sempre, mas que não fique aqui.”
Caesar Pierini – Artista, ansioso, apaixonado, chorão, sorridente, impaciente, curioso, genioso, brasileiro e escorpiano.”

Cemitérios, geralmente, são verdes. Eu gosto de verde.
Me sentirei em casa, em uma quarta-feira chuvosa.
O que fazer num dia desses...
...Vou fechar a janela!
Obrigado Benjamin Franklin, moro no ultimo andar de um prédio velho.

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2 comentários:

Adriano Veríssimo disse...

"- Papai, por que a chuva não pára?
- Porque ela é enviada por Deus, filho.
- Papai, acho que Deus não gosta da gente, por que aqui no sertão quando a terra não fica seca e a gente morre de sede, Deus castiga a gente com tanta água, que a gente morre afogado...

(silêncio)"

Nem sei por que escrevi isso...Mas acho que é por essas chuvas deixam os dias cinzentos e desanimadores.

E adorei a frase da lápide...muuuuito mais leve e agradável.
rs

ótimo finzin de tarde pra ti...de chuva...rs

= )

tay disse...

foto bacana esta do seu perfil ...quem tirou??

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