Terra-Menina de Rara Beleza

E de repente a pequena cidade se esvazia.
Pessoas saindo, carros partindo, luzes se apagando e portas fechando.
Estar só, neste lugar quase-sacro, é estranho e bom; estranho, pois se estranha estar só quando não se é acostumado; e bom, pois pode-se sentir a vida, além de viver-la.
Gosto do egoísmo de acreditar que tudo aqui é meu. Gosto de saber que esse lugar sempre estará me esperando, talvez no escuro, e pensar que quando eu chego, o sol nasce, as pessoas despertam e o paraíso se mantém intacto, como da ultima vez.
Hoje caminhei por entre as pedras, no cume da mais íngreme rocha, daquela que faz a curva entre a costa e o penhasco, onde o vento se despede do tempo e migra rumo ao infinito.
Tendo o mundo a me acariciar os pêlos, com suas rajadas de vento, percebi que em tudo ressoa um som circular, presente em todas as coisas ao se manifestarem.
Há milênios, os orientais acreditam nesse som e buscam-no como forma de meditação e união com o universo.
Não quero propagar filosofias, quero apenas contar que é possível encontrar-lo em muitas coisas, como nas ondas, no vento, nas folhas das arvores ao balançarem, e nos ramos de capim quando se roçam.
Não sei se as coisas o produzem ou são produzidas por ele, tampouco sei o que fazer a partir do seu conhecimento, mas me agrada descobrir as pequenas sutilezas que constituem a vida.
Aqui, nesse meu paraíso, encontro todo o conforto necessário ao meu corpo e minha mente.
Há aqui, todas as belezas que mimam os olhos: praias, montanhas, rochas, matas, pássaros que cantam anunciando o dia, grilos que sibilam encantos para a lua, corpos que se banham de mar e de sol.
Da beira-mar, pode-se ver uma grande ilha e suas ilhotas, aonde os pássaros, de todos os cantos, fazem seus ninhos.
Aqui o sol nasce rosado e ao se por é laranja. Coisas nascem e morrem aqui.
Não nasci aqui, embora tenha crescido sob as mangueiras que permeiam estas estradas de terra, mas quero morrer neste lugar.
Quero que joguem minhas cinzas por entre os cantos deste recanto meu. E quero que venham felizes, ornados de flores e entoando cânticos.
Que me espalhem por aqui e acolá, por sobre as pedras e as ondas, entre as flores e os canteiros, sobre a grama e os coqueiros.
Quero me fixar a uma rocha, entrar em uma concha e, quem sabe, fazer-me, do pó, uma pérola.
Quero ser o pólem que semeia as flores e o sumo que brota dos cocos na copa dos coqueiros; ser bebido com sede, por bicho ou gente.
Mas, por ora, bem, vivo!
Só, na terra minha; terra menina de rara beleza,
Que, vívida, me apazigua.

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